segunda-feira, 21 de maio de 2018

O Lado de Lah do Encantamento



As mensagens no aplicativo deixaram de existir e, vez ou outra, conferíamos o que um dos dois andava fazendo, pela atualização do status.

Isso não tinha importância nenhuma em minha vida e eu já estava com o tempo do almoço terminando e com os pés doendo de tanto que andei de um lado para o outro, resolvendo coisas do trabalho.

Foi quando nos cruzamos.

Nossos olhares.

Achei que o conhecia de algum lugar e meu cérebro demorou exatamente três segundos para me confirmar isso. Era ele.

Olhei para trás, com a esperança de que ele também tivesse a mesma impressão. Ele seguia tranquilamente rumo à escada rolante.

Menos de um segundo de decepção e segui minha vida adiante, virando o rosto e caminhando a passos largos. Foi aí que ele me olhou e continuou a olhar, enquanto a escada subia e nos deixava mais distantes.

Porém, por uma ironia brincalhona do destino, foi isso que realmente nos aproximou.

Não lembro quem puxou assunto, nem como a conversa começou, mas lembro bem quando ele disse: "acho que te vi no shopping outro dia."

Ficamos um pouco encantados com aquele encontro inesperado, meio coisa de filme (pelo menos pra mim teve essa relevância). E resolvemos que já estava na hora de nos conhecermos de verdade, sabendo exatamente quem era quem.

A vida às vezes me deixa confusa porque eu sempre quero saber o motivo das coisas que acontecem e nem sempre ela (a vida), está a fim de responder. Isso me deixa mau-humorada. E triste.

Mas entendo que isso faz parte de um aprendizado e que devemos viver certas coisas, sentir o que é pra sentir com elas e, só depois (um depois que pode demorar segundos para vir, dias, meses ou até anos), entender realmente o porquê daquilo ter acontecido.

Nosso primeiro encontro não foi combinado, surgiu de uma mensagem repentina com um convite para uma cerveja e acabou no apartamento dele. Foi natural e espontâneo. A conversa, os olhares, os sorrisos, o toque. Me senti especial diante da insistência de que eu ficasse pra dormir ali naquela noite e da pergunta feita enquanto me beijava, já na porta da minha casa: "Como eu vou te deixar ir agora?"

Ao final da semana, estávamos juntos novamente.

De volta ao apartamento, nos sentamos em lados opostos da mesa, numa distância física que parecia não existir, em  uma conversa longa que varou a madrugada, regada à cerveja e músicas que nós dois amávamos.

Eu tentava me manter alerta.

Não que eu estivesse sonolenta ou já entorpecida pelo álcool. O sinal de alarme era para o jeito encantador daquele rapaz, que me dizia o tempo todo, tudo o que eu queria ouvir e fazia coisas que me atraiam demais. Mas parecia certo estar ali e eu me achava inteiramente no controle da situação. A situação que estava aqui dentro de mim, na minha mente, nos meus sentimentos, no meu coração...

Dormimos tarde, tomamos café na hora do almoço, mas o era o nosso tempo e aquele tempo parecia funcionar bem.
Ele cozinhou, tocou violão, quis dividir comigo suas músicas preferidas, as fotos da família, as histórias engraçadas, as coisas que escreveu.

A cada cinco minutos, o alerta ficava mais forte. Mas fiquei muito experiente em ignorá-lo quando me convinha.

Passamos o resto do dia no quarto. Eu vestia uma camisa sua e uma força me puxava pra perto dele, sem que eu entendesse porquê e de onde vinha.

Resolvemos que era hora do almoço quase  no final da tarde e saímos para a luz do dia. Conversamos mais, rimos, nos beijamos, combinamos mil coisas e quando ele finalmente me deixou na porta de casa eu vi em seus olhos que tinha acabado.

Acabou.

Foi rápido, foi intenso, foi maravilhoso.

Eu devia me lembrar de todas as vezes em que senti que seria assim e aceitar isso, mas foi difícil. Como em todas as vezes. Dessa vez foi diferente. Dessa vez o peso foi maior. Dessa vez demorou mais a passar.

Dessa vez, o que eu achava que estava cicatrizado, se abriu. Sangrou novamente e novamente estou eu tentando estancar.

Dessa vez eu senti medo e cansaço. Medo de se repetir, medo de deixar acontecer de novo, medo de não conseguir fechar a ferida e o maior medo de todos, medo de seguir.

Mas ainda tenho forças e, enquanto eu as tiver, vou lutar contra esse medo.

É aquela história do aprendizado, não é mesmo?

Uma hora eu aprendo.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário no Lado de Lah!