quarta-feira, 20 de abril de 2016

O lado de Lah do "bela, recatada e do lar"




E aê povo lindo!!!

Como é que tá? Tudo beleza?

Tudo beleza, até que...


Parece título de folhetim do século XIX, mas... Não. Isso foi publicado no dia 18 de Abril de 2016.

Houve toda uma discussão no "saite feices" por conta dessa matéria. Uns contra Marcela, outros a favor de Marcela.

O que eu penso sobre isso? 

Bem, se ela é feliz e foi escolha dela, ótimo. Essa é a pegada do negócio, né? Nessa altura do campeonato, nós, mulheres, as pessoas que durante séculos, tinham apenas a função de limpar a sujeira dos homens, cozinhar a comida dos homens, abrir as pernas pra piroka dos homens e parir os filhos dos homens... Olha só! HOJE, nós temos o direito de ser a porra que a gente quiser. 

Não é fantástico isso?

É, deveria ser. Mas ainda tem gente (e revistas), que insistem em dizer como deve ser uma "mulher de verdade". E essa mulher de verdade, é Marcela Temer.

A questão aqui não é a escolha de Marcela. Como eu disse, a gente pode escolher ser o que quiser. A questão é que sempre somos alvo de críticas quando escolhemos NÃO ser Marcela.

Bela, recatada e do lar...

De que tipo de beleza nós estamos falando?

Eu vivi anos sofrendo porque sempre fui muito magra e a sociedade me dizia que eu deveria ter o corpão. Quando eu arrumei meu primeiro namorado, a justificativa dele para ter me escolhido como namorada era a seguinte: "É bem mais fácil colocar um corpo numa mulher com cérebro, do que um cérebro numa mulher com corpo." OU SEJE, ele queria namorar uma mulher inteligente, de bom caráter e boa educação, mas ela precisava ter o corpo de uma Panicat. E assim, eu passei seis anos da minha vida com uma pessoa me mandando ir pra academia e dizendo que eu estava com a barriga grande e qualquer hora dessas ele arrumava outra e eu não ia saber porquê. E, olha só, ele não queria saber se eu estava feliz com o corpo que eu tinha. E eu estava, porque finalmente consegui ganhar alguns quilinhos e vestir tamanho 38. Porque não é nada fácil encontrar roupa legal pra uma mulher de 19 anos e que pesa apenas 39 quilos.

E durante muito tempo, foi muito difícil me aceitar e ao meu corpo, mesmo ouvindo de outros homens que eu era linda, gostosa and maravilhosa, sem ter ido à droga da academia, sem ter feito lipo na barriga, mesmo sendo a mesma pessoa.

O que é ser recatada?

É não vestir roupa curta? É dar só pra um homem a vida toda? É não ingerir bebida alcoólica?
Adoro vestidos longos, acho bonito e elegante. Perdi minha virgindade aos 25 anos com o meu primeiro namorado, porque eu achei que deveria ser assim. Depois de seis anos com o primeiro, namorei oito meses com o segundo E último namorado. Hoje estou solteira. Sempre torci a cara pra bebida alcoólica. Sou uma mulher recatada?

Bem, a não ser meu gosto pelos vestidos, que continua o mesmo, descobri que fico linda num shortinho. Não me arrependo de nada do que fiz na vida, de nenhuma de minhas escolhas, mas esse negócio de esperar tanto tempo pra saber o que é sexo atrasou um pouco a minha vida... E não. Eu não tô falando dos 25, eu tô falando dos 32. Então, se eu fiquei seis anos com o mesmo cara... façam suas próprias contas. Eu sou de humanas.

Hoje eu visto meu shortinho, saio com minhas amigas, adoro tomar uma cervejinha e, FINALMENTE, descobri as maravilhas da liberdade sexual. Se isso é não ser recatada, prazer EU.

Ai, gente... me dá até preguiça de comentar essa "do lar", porque essa eu não sou meixmo.

Mas já fui.

Por isso, obrigada God, por ter me livrado desse castigo, porque a expressão "do lar", sempre me remete à lembrança de um homem esparramado no sofá, enquanto eu lavo louça, faço o almoço, lavo as cuecas com freada, limpo a casa e de noite, quando eu deito pra dormir e caem lágrimas dos meus olhos porque meus pés estão latejando de dor por ter passado o dia feito uma escrava doméstica numa casa de duas salas, três quartos, quatro banheiros, cozinha e uma cachorrinha de dois meses doente, o cara vira pra mim e diz que eu tô com frescura.

Minha mãe NUNCA me criou dizendo que afazeres domésticos são responsabilidades apenas da mulher. E o que a mãe da gente diz, a gente tem que respeitar.

Eu já falei tudo o que eu penso sobre isso nesse post aqui. Mas, resumindo: quem não tem a capacidade de lavar um prato depois de comer, não merece meu crédito.

Essa é a minha visão de tudo. Já fui Marcela e me sentia eternamente sufocada. Quando deixei de ser, comecei a viver de verdade.

E, em todo o tempo em que escrevi esse texto, me lembrei de tantas mulheres maravilhosas que eu conheço e que vivem e são como eu. Que usam roupa curta, que saem pra beber com as migas, que dançam, que sorriem, que beijam, namoram, casam, tem filhos e sempre serão dignas.

A mulher pode ser o que quiser. Se tem uma coisa que mulher pode é poder.

E eu não sou obrigada a nada.

NA-DA.